O ex-senador Delcídio do Amaral afirmou, em depoimento à Justiça Federal do Rio de Janeiro, que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira foi criada pelo governo do PT como “vingança” contra o governador Marconi Perillo. Ao depor como testemunha no processo da Operação Saqueador, o ex-parlamentar revelou ainda que a investigação foi alvo de ‘operação abafa’ depois que começaram a aparecer menções sobre o envolvimento do doleiro Adir Assad, elo entre Cachoeira e os petistas.
Assad está preso desde o ano passado por envolvimento nas investigações da Operação Lava Jato. Segundo a denúncia, empresas ligadas a Adir Assad emitiam notas frias para beneficiar integrantes do esquema de lavagem de dinheiro da Petrobras. “Havia um ranço da época do mensalão, e especificamente em relação ao governador Marconi Perillo. Na época para ter votos ou não, assinatura suficiente para ter CPI dos Correios ou não, parece que houve um diálogo que não surtiu efeito. Ficou essa mágoa”, disse Delcídio em depoimento nesta quinta-feira.
Em 2014, o governador Marconi Perillo foi absolvido pelo Conselho Superior do Ministério Público que arquivou, por ausência de provas, procedimento investigatório sobre supostas ligações dele com o empresário Carlos Cachoeira. O inquérito foi instaurado pelo Ministério Público, em 2012, por ato da Procuradoria Geral de Justiça. A CPI também acabou encerrada sem indiciamentos, também por falta de provas ou evidências;
Delcídio disse ainda durante o depoimento à Justiça Federal que as quebras de sigilos da CPI do Cachoeira indicavam empresas “que poderiam levar a doações de campanha, obras em andamento” que atingiam o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Perceberam que o chumbo ia bater em quem queria se vingar”, disse Delcídio. “Virou uma CPI nacional”, diz o ex-senador. Segundo ele, “Lula foi incentivador da CPI, porque imaginava que seria uma CPI regional”.
O ex-senador disse ainda que a decisão de abafar a CPI do Cachoeira, em função do temor de que ela se voltasse contra o governo, Lula e o PT, foi tomada pelos líderes petistas com conhecimento do Palácio do Planalto.