COLUNA do Freitas –Banco Central contra a economia

A reunião do COPOM do dia 06 de novembro não trouxe nenhuma novidade. O Banco Central do Brasil aumentou os juros em 0,50% ao ano, passando de 10,75% para 11,25% ao ano. Serão mais R$ 40 bilhões a mais de juros a serem pagos por ano aos detentores dos títulos do governo. O Brasil tem a 3ª. maior taxa de juros reais do mundo, mais de 7% ao ano, ficando atrás da Turquia e da Rússia, economia em guerra atualmente.

A coluna dessa semana tem o objetivo de questionar e criticar, tendo em vista o desenvolvimento econômico do país, as possíveis razões de um banco central de agir completamente contra a economia através de informações, previsões e ações suspeitas.

1. Manipulação das projeções pelos bancos do mercado financeiro. Como o Banco Central leva em consideração as projeções dos financistas da Faria Lima, é fácil constatar a incoerência das suas projeções. Considerando o relatório Focus – Distribuições de Frequência – Expectativas de Mercado de outubro de 2024 temos:

a. Em agosto a cauda final da curva de projeção do IPCA para 2024 era no intervalo de 4,88%-5,18%; já em setembro passou a ser no intervalo de 5,18%-5,48% e em outubro, no intervalo de 5,48%-5,78%. Ou seja, as projeções foram aumentando a cada mês, fazendo com que a média das projeções do Relatório Focus também aumentasse proporcionalmente. Se considerarmos as médias de cada intervalo constatamos que houve aumento na cauda final das projeções em 0,6% para a inflação de 2024. 

b. Comparando com a inflação realizada no período, IPCA de agosto e setembro e IPCA-15 de outubro, (o IPCA de outubro ainda não foi divulgado), percebemos a total incoerência das projeções. A inflação acumulada em 12 meses no período foi de 4,24% em agosto; 4,42% em setembro e previsão de 4,47% em outubro (conforme IPCA-15). Houve um aumento no período de 0,2% na inflação acumulada em 12 meses, ou seja, 1/3 do aumento das projeções do mercado financeiro.

c. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a estimativa da taxa básica de juros de equilíbrio deveria estar em 8,4% ao ano e não em 11,25%. A explicação para esse cálculo deve-se à média dos cinco principais núcleos de inflação acumulado em 12 meses, até setembro, que foi de 3,8%, contra 4,3% no acumulado em 12 meses até dezembro de 2023. A CNI argumenta que o aumento das taxas de juros pelo Banco Central não terá efeito sobre uma parte da inflação que não é consequência de aumento de demanda, e sim de aumento de custos por movimentos de fatores conjunturais, tal como a seca extrema. Os últimos indicadores mensais têm sofrido com os aumentos de energia elétrica e alimentação, devida a essa seca que tivemos no país.

2. No segundo caso, não será chamado de manipulação, mas de negligência. É a atuação do Banco Central no mercado do dólar. É notório um ataque especulativo à moeda brasileira pelos especuladores de plantão. No último dia 01 de novembro, o dólar bateu a casa dos R$ 5,87, maior valor desde 2020. O Banco Central tem como função a estabilidade da moeda, portanto, em um aumento significativo como esse, é de sua obrigação intervir no mercado, vendendo dólares para que o preço seja reduzido. O contrário também é verdadeiro:em caso de redução de preço, é obrigação do banco entrar no mercado comprando dólar. E por que o Banco Central não tem feito isso no Governo Lula, já que no Governo Bolsonaro o B.C. interveio 120 vezes durante todo o mandato para segurar a cotação do dólar? As reservas de dólares que o Brasil possui, quase US$ 400 bilhões, têm uma dessas funções.

Diante desses dois fatos, é impossível não perceber que há, sim, uma conspiração contra a economia real brasileira em favor dos financistas da Faria Lima, que tem como modus operandi: manipular as projeções de inflação, acarretando um ataque à moeda nacional que com a sua desvalorização afetará a inflação no futuro. Com isso, obriga o Banco Central do Brasil, que está a serviço desse pessoal, a aumentar a taxa de juros para a 2ª. maior taxa de juros reais do mundo, 7% ao ano, enquanto EUA e Europa reduzem os seus juros. 

A quem beneficia esse movimento todo do mercado financeiro avalizado pelo Banco Central? Aos investidores financeiros da Faria Lima, aos detentores dos títulos da dívida pública, por um lado exigindo uma taxa de juros a mais alta possível, taxa de juros reais e, por outro lado, pressionando o governo a cortar gastos primários com educação, saúde, transporte, benefícios e investimentos públicos para garantir superávit primário para pagamentos dos juros da dívida que eles detêm. 

A grande imprensa e seus principais comentaristas políticos e econômicos são simpatizantes dessa financeirização da economia, considerando-se neoliberais, em contraste com os desenvolvimentistas que querem que a economia cresça. Já passou da hora do setor produtivo se debelar contra essa predominância da financeirização. Chegou a hora da FIESP, CNI, FIEG em Goiás e demais darem um basta nesse processo e buscar incessantemente a reindustrialização do Brasil. Só assim o país será desenvolvido, porque hoje não passa de “um grande fazendão financeirizado”.

Por fim, gostaria de agradecer a oportunidade de estar publicando o meu 52º. artigo semanal, completando 1 ano de convivência com o Stgnews, esse canal de informação importante para o Centro Oeste do Brasil, meus agradecimentos especiais ao diretor de redação Leandro Resende.

Marcos Freitas Pereira

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