Simone Kafruni
Mais do que abalos políticos, os escândalos de corrupção na Petrobras podem afetar diretamente a economia nacional. Maior empresa brasileira, a estatal responde por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para se ter uma ideia da sua importância, para cada R$ 1 que investe R$ 3 são adicionados à economia — um poder multiplicador impressionante. Um corte de 10% no plano de negócios da petroleira pode tirar de 0,1 a 0,5 ponto percentual do PIB. Se considerar a estimativa do mercado, uma expansão de só 0,8% em 2015, a redução poderia pôr o Brasil rapidamente na recessão.
Desde o ano passado, quando investiu R$ 104,4 bilhões, a Petrobras vem colocando o pé no freio dos seus projetos. Para 2014, a previsão é investir R$ 84,5 bilhões e, para o próximo ano, R$ 83,4 bilhões. Sem a publicação do balanço financeiro do último trimestre, que deverá apresentar baixas contábeis de até US$ 10 bilhões, cerca de R$ 25 bilhões, a companhia está praticamente impedida de aumentar sua dívida em títulos e, por tabela, levar adiante o seu bilionário programa de investimentos.
Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, tudo conspirou contra a Petrobras. “Além das denúncias de corrupção, da prisão de diretores e do endividamento astronômico, a empresa não consegue cumprir a meta de produção e, para piorar, o preço do barril de petróleo caiu no mercado internacional”, lista. Se os desdobramentos da atual crise levarem à perda do grau de investimento da empresa, ele acredita que a estatal pode ficar inadimplente em 2015.
“Com toda a desconfiança que cerca a petroleira, os investidores vão exigir um prêmio (juros) maior nos seus títulos. Se for rebaixada, a coisa ficará insustentável e a empresa não terá como se refinanciar. Se quebrar, vai levar a economia junto”, destaca Pires. Ele lembra que o ramo de petróleo e gás equivale a 13% do PIB. “Como o governo optou pelo modelo monopolista, 99% do setor é Petrobras. Além de vendedora quase exclusiva, quem oferece bens e serviços ao setor depende da estatal”, sublinha. Ele alerta, ainda, para contenções de gastos já feitas pela petroleira, como os contratos com a construtora IESA, no Rio Grande do Sul, cujos dirigentes foram presos pela Polícia Federal.