COLUNA do Freitas –PIBem alta assusta o mercado financeiro

Em mais uma grande contradição do mercado financeiro, os seus agentes estão preocupados com os últimos indicadores da economia brasileira. O PIB apresentoucrescimento significativo no 2º. trimestre do ano. Os analistas revêem suas projeções para 3% ou mais de crescimento da economia em 2024.

Segundo o IBC-Br, indicador do Banco Central, que é uma prévia do PIB, apurou crescimento de 1,4% em junho em relação a maio, em relação a junho do ano anterior, crescimento de 3,2%, em 12 meses, crescimento de 1,6%, o acumulado no ano, janeiro a junho, crescimento de 2,1%, no trimestre em relação ao trimestre anterior, crescimento de 1,1% e crescimento de 2,8% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

Já na divulgação pela FGV, através da pesquisa Monitor do PIB, apresentou crescimento no trimestre de 1,1% em relação ao trimestre anterior, em relação ao mesmo período do ano anterior, crescimento de 2,9% e no acumulado em 12 meses, crescimento de 2,3%. Os principais fatores de crescimento do PIB no 2º. trimestre foram: crescimento de 5,3% no consumo das famílias; crescimento de 7,3% nos investimentos e crescimento de 6,4% nas exportações.

Portanto a tendência do crescimento da economia em 2024 já é maior do que 3%. E por que o mercado financeiro está assustado? Uma observação antes da resposta.

Com a financeirização da economia mundial a partir dos anos 1980, no bojo do neoliberalismo, o mercado financeiro cada vez mais tem se preocupado com as ações econômicas ocorridas, em princípio, pela crise de 2008 e depois com a pandemia Covid. A participação do Estado nas economias, vide governo Biden e agora governo Lula, buscam crescimento sustentável econômico que nunca ocorreu nos anos de neoliberalismo puro. Segundo Bresser Pereira (2023) em prefácio ao livro Introdução a financeirização de Lapyda,Ilan (2023), disse textualmente: “A financeirização e o neoliberalismo estão reagindo duramente ao novo que aqui está surgindo, mas o êxito dos países do Leste da Ásia deixou claro para o Norte Global que o desenvolvimento faz mais sentido , e o novo governo brasileiro sabe bem disso”. O ministro da economia, Fernando Haddad, em um evento do BTG nessa semana, disse que o Brasil não pode crescer menos do que a média mundial em função da sua potencialidade, e mais, disse ainda que não existe solução para o Brasil que não passe pelo crescimento.

Com as notícias do crescimento da economia, os agentes financeiros começam a defender uma nova teoria para manutenção e alta da taxa de juros. Antes, a manutenção da taxa de juros era para conter o processo inflacionário e a desconfiança da política fiscal, como a inflação está sobre controle, em 4%, e os resultados fiscais de 2024 estão dentro do programado, a defesa da manutenção da taxa de juros torna-se inócua. Agora, com os resultados projetados do PIB a defesa de manter e até aumentar a taxa de juros é a previsão de que a maior demanda, pelo aumento do consumo das famílias, pode acarretar inflação, pois no curto prazo as empresas não conseguem aumentar a oferta. Raciocínio correto, porém, esquece que a taxa de investimentos tem sido maior do que o aumento da demanda, o que se prevê uma maior oferta de bens e produtos no futuro próximo. O que o Banco Central deveria estar fazendo é sinergia para o crescimento da economia de forma sustentável, porém, não é o seu foco.

Assim conseguimos entender o porquê da preocupação do mercado financeiro com o crescimento do PIB, para o PIB crescer, além do consumo, precisa-se de investimento, e investimento para a economia no longo prazo chama-se BNDES, que por sinal teve de lucro R$ 7 bilhões no 1º. semestre, assim sendo o mercado financeiro focado no curto prazo,  nos juros altos pagos pelos títulos do governo e no mais elevado spread do planeta terra, preocupa, com todo sentido, a perda da sua soberania e da sua influência global na política, nos grandes meios de comunicação, nas elites, muito longe dos interesses do povo brasileiro.

As projeções realizadas no relatório Focus divulgado no dia 16 de agosto trouxeram variações em relação à semana anterior. Para o PIB de 2024, aumentou de 2,20% para 2,23%, para 2025 reduziu de 1,92% para 1,89% emanutenção das previsões para os anos de 2026 e 2027 em2%. Já para a inflação, a previsão de 2024 aumentou de 4,20% para 4,22%; 2025 reduziu de 3,97% para 3,91%, 2026 manteve em 3,60% e 2027 manteve-se a projeção de 3,50%.  

As projeções da Taxa Selic, 2024 manteve em 10,50%, 2025 aumentou de 9,75% para 10,00%, 2026 e 2027mantiveram-se 9,00%. Com as previsões da Selic e a manutenção da previsão da inflação para os próximos 12 meses de 3,73%, a taxa de juros reais da economia, calculada pela coluna reduziu para 6,39% ao ano. A taxa prevista para o final do ano, com Selic em torno de 10,50%, equivalerá taxa de juros reais de 6,56%, ainda acima da taxa de juros reais neutra divulgada pelo Banco Central que é de 4,5%. 

Quando se analisa a curva de juros do Brasil para os próximos anos o mercado projeta: janeiro de 2025 em 10,80%; janeiro de 2026 em 11,52%; janeiro de 2027 em 11,44%; janeiro de 2028 em 11,455%; janeiro de 2029 em 11,48% e janeiro de 2034 em 11,39% (Cotações – Juros Futuros – Ferramentas | InfoMoney), os juros reais inclusos nessas taxas são de 7,38% ao ano. Já as taxas dos títulos dos Estados Unidos negociadas para 2 anos são de 4,068% e para 10 anos são de 3,873% ao ano, apresentando redução em relação à semana anterior.

Ainda pelo relatório Focus as previsões do resultado primários foram, 2024 de -0,64% do PIB, 2025 de -0,70%,2026 de -0,50% e 2027 de -0,30%.

Abaixo, a tabela das projeções dos indicadores econômicos para 2024 com a atualização do Relatório Focus e a manutenção das previsões da coluna. 

Abaixo quadro de projeção do IPCA até o final de 2024 para eventuais cálculos de projeções.

Marcos Freitas Pereira

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