João Valadares
Eduardo Militão
Empreiteiras acusadas por delatores da Operação Lava-Jato de formar cartel por pagarem subornos em troca de contratos bilionários receberam pelo menos R$ 11,8 bilhões da Petrobras para a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a maior obra da estatal no Brasil. Com apenas 10 contratos assinados, o “clube da propina” mordeu, até o momento, 49% de todo o atual custo do complexo, de acordo com análise do Correio em lista de negócios fechados para a construção da unidade. Elas foram escolhidas diretamente pelos gestores da Petrobras ou por dispensa de licitação ou por “convite”, quando a estatal escolhe aleatoriamente três fornecedores para disputar a construção de um empreendimento.
Com 70 aditivos, o grupo de nove gigantes empreiteiras aumentou seus ganhos em R$ 1,1 bilhão. Isso significa acréscimo de 7% sobre o valor da estimativa de custos prevista pelos técnicos da Petrobras, apesar de os contratos inicialmente assinados preverem o contrário: uma redução de 4%. O “clube vip” do Comperj é formado pelas gigantes Odebrecht, OAS, Engevix, Queiroz Galvão, Iesa Óleo e Gás, UTC, Mendes Júnior, Toyo Setal e Galvão Engenharia. A Andrade Gutierrez, que não foi alvo da sétima fase da Lava-Jato mas foi denunciada pelos delatores, aparece em um consórcio com outras construtoras. Do outro lado, as demais fornecedoras do Comperj tiveram aditivos que encareceram menos as obras: 4%.
A lista inclui construções cujos contratos foram assinados a partir de fevereiro de 2008. Alguns projetos devem acabar apenas em março de 2018. São R$ 24,2 bilhões em obras — sem indicação de concorrência ampla — até o momento. Mas o custo total, que inicialmente seria de US$ 6 bilhões (R$ 15 bilhões), deve chegar a US$ 48 bilhões (R$ 123 bilhões), segundo a área de estratégia corporativa da Petrobras relatou ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Dos 73 contratos, uma minoria pertence ao suposto cartel denunciado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, pelo doleiro Alberto Youssef e pelos executivos da Toyo Júlio Camargo e Augusto Mendonça. Entretanto, seus valores são bem maiores que os restantes, de R$ 1,1 bilhão, em média, contra R$ 196 milhões, média dos demais 63 negócios fechados. A reportagem retirou da lista oito contratos rescindidos.