Cada vez mais, há quem tire a roupa para integrar o portfólio de fotógrafos locais consagrados. O nu transita entre a poesia e o manifesto
Diego Ponce de Leon
As fotos desta página ofendem? A resposta à indagação parece ser o termômetro entre o que pode ser considerado arte e o que não pode. Embora o nu apareça em telas plásticas desde a Grécia Antiga e conste na fotografia em seus primórdios (procure pelos cliques do francês Jean Louis Marie Eugène Durieu, morto em 1874), a subjetividade permanece latente. “O nu ofende, constrange. Muitos não se sentem à vontade”, comenta Kazuo Okubo, cujo trabalho se tornou conhecido por conta das imagens de pessoas desnudas.
Hoje, Kazuo é prestigiado e transita com tranquilidade por entre as galerias da cidade. Nem por isso, não sofre resistência. “O Ministério da Justiça demonstrou interesse em conhecer e expor meu trabalho. Depois de verem o conteúdo, relutaram. Não aconteceu”, recorda.
O jovem Rafael Godoy Brito, que também investe no nu, enfrenta situação parecida: “Recebi uma proposta de emprego. Depois de mostrar meu portfólio, eles informaram que meu perfil não era compatível, já que o projeto era educacional”. A brasiliense Maíra Morais, que somente fotografa mulheres, teve que retirar alguns trabalhos do ar. “Namorados e familiares reclamam da exposição”. Para Mariana, “a mentalidade do brasileiro é contraditória. O biquíni, tão revelador, pode. A lingerie não.”
Apesar das adversidades, o fascínio pelo corpo humano prevalece. “A roupa é uma cobertura, uma máscara. O corpo revela quem de fato somos, sem reparos”, opinou Diego Bresani, um dos mais concorridos profissionais da área. Além do valor estético, o nu aparece como ferramenta de manifesto. “O corpo quebra protocolo. Chama a atenção. Por isso, muitos o usam como um cartaz natural”, destaca Kazuo.