No sábado, dia 07 de outubro, o mundo foi surpreendido pelo ataque terrorista do grupo Hamas ao território de Israel colocando novamente o mundo em uma guerra insana. Os efeitos da guerra podem afetar expressivamente a economia mundial, em função da região ser uma das maiores produtoras de petróleo do mundo. O barril do petróleo nesse período de guerra atingiu o patamar de US$ 92,04 com crescimento de 9% em relação a 1º. dia anterior ao início da guerra, analistas acreditando que pode chegar a US$ 100,00. O aumento do preço do petróleo afeta diretamente nos preços de combustíveis, preços esses muito sensíveis ao índice de inflação, portanto, espera-se um crescimento nesse indicador nos principais países. O Brasil não deverá ficar isento desse efeito. O governo brasileiro, na condução da política econômica, deverá encontrar alternativas para que esse efeito não seja duradouro, pois outro fator negativo em decorrência desse seria a redução ou até a paralisação das taxas de juros do Brasil, o que seria terrivelmente negativo para a economia, já que temos a maior taxa de juros reais do mundo que inibe consumo e inibe investimentos e promove apenas investimentos financeiros, que não agregam valor a economia real.
No Relatório Focus divulgado no dia 16 de outubro não houve grandes mudanças nas projeções do mercado financeiro. Para o PIB o relatório Focus manteve a projeção para 2023 de 2,92%, de 1,50%, 1,90% e 2,00% para 2024, 2025 e 2026, respectivamente. Já para a inflação a previsão de 2023 foi reduzida de 4,86% para 4,75%, chegando pela 1ª. vez a meta de inflação, o mercado ainda não captou nenhum efeito da guerra; o relatório Focus aumentou a previsão para 2024 de 4,86%para 4,88% e manteve as projeções para 2025 e 2026 em 3,50%.
As projeções da Taxa Selic continuaram as mesmas, 11,75%, 9,00%, 8,50% e 8,50% para os anos de 2023, 2024, 2025 e 2026, respectivamente. Com as previsões da Selic e com a previsão de redução da inflação para os próximos 12 meses, que caiu de 4,02% para 4,00%, a taxa de juros reais da economia, calculada pela coluna é de 6,42% ao ano, redução de 0,13%, em relação a duas semanas atrás. O mercado já prevê uma inflação para os próximos 12 meses em torno de 4% pela 1ª. vez.
Quando se analisa a curva de juros do Brasil para os próximos anos, o mercado continuou elevando as suas previsões, ainda impactadas pelo aumento das taxas de juros dos EUA, janeiro de 2024 em 12,165%; janeiro de 2025 em 11,035%; janeiro de 2026 em 10,865% e janeiro de 2027 em 11,06%, os juros reais inclusos nessas taxas são de 7,23% ao ano, acima da taxa de juros calculada pela coluna de 6,42%. Já as taxas dos títulos dos Estados Unidos seguem em alta, a taxa para 2 anos é de 5,191% e para 10 anos é de 4,84% ao ano.
Essa coluna acredita que em todo o governo Lula 3 as discussões sobre política econômica centralizarão na questão do papel do Estado na economia. Esse debate será intenso e acho importante discuti-lo aqui e no contexto histórico. O economista chinês Ha-Joon Chang defende uma tese no seu livro, Chutando a Escada, que todos os principais países hoje desenvolvidos só atingiram o seu desenvolvimento protegendo a sua economia, através de tarifas de importação e através do ativismo do Estado. Ele dá exemplos de vários países, porém, os mais importantes são Inglaterra e Estados Unidos, os berços atuais da economia liberal. Ele defende na tese que os países em desenvolvimento, o Brasil está incluso, não podem apenas importar as ideias atuais desses países desenvolvidos, de abertura máxima da economia e de um Estado menor possível, pois esses receituários não foram aplicados por eles na época do desenvolvimento dos seus países, por isso o nome Chutando a Escada, se desenvolveram através da proteção e ativismo do Estado, porém, agora defende aos países em desenvolvimento o contrário, com absoluta certeza não para ajudar os em desenvolvimento e sim para se ajudarem cada vez mais. Por fim, trazendo para o nosso dia a dia, encontramos economistas, políticos e empresários defendendo as bandeiras do neoliberalismo e sugerindo como exemplos esses países Inglaterra e Estados Unidos. O autor demonstra que o crescimento da economia em desenvolvimento, PIB per capita, cresceu duas vezes mais no período de 1930 a 1980, período que antecede a defesa e prática do neoliberalismo de 1980 a 2019.
Marcos Freitas