Os cânceres ginecológicos, que afetam um ou mais órgãos do aparelho reprodutor feminino possuem alta incidência no país, segundo o relatório anual de 2022 divulgado no site Controle do Câncer do Colo do Útero, do Instituto Nacional de Câncer (INCA), juntamente com o Ministério da Saúde. Segundo o Inca, a cada ano, cerca de 30 mil mulheres brasileiras recebem algum desses diagnósticos, sendo 16.710 casos no colo uterino, o que representa um risco considerado de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres.
O câncer ginecológico acomete o colo do útero ou endométrio, os ovários, a vulva e a vagina da mulher, sendo que o útero e ovário são os mais prevalentes. De acordo com o médico oncologista, Rafael Onuki Sato, essas neoplasias são responsáveis por 19% de todos os diagnósticos anuais de câncer no mundo.
Ao todo, os especialistas destacam cinco tipos de câncer ginecológico, são eles: câncer de colo do útero, câncer de endométrio, câncer de ovário, câncer de vulva e o câncer de vagina, sendo os dois últimos os mais raros de acontecer. Cada tipo de doença, possui características diferentes, sintomas, causas e tratamentos diferentes também. Para a ginecologista e mastologista, Mariana Silva Lobo, no geral, os sintomas variam entre sangramento irregular, lesão no colo do útero ou na vulva e no caso do câncer de ovário, a mulher pode sentir dores abdominais e distensão.
No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres. Para o ano de 2023, o Inca estima 17.010 casos novos da doença, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres.
Quando analisado por regiões, o câncer do colo do útero é o segundo mais incidente nas regiões Norte, com uma média de 20,48 a cada 100 mil mulheres e Nordeste com 17,59 a cada 100 mil mulheres. A região Centro-Oeste é a terceira na lista, com 16,66 a cada 100 mil mulheres. No estado de Goiás foram registrados 660 casos da doença somente em 2022, o que representa uma média de 17,74. Ainda de acordo com os dados, no Brasil, a taxa de mortalidade por câncer do colo do útero, ajustada pela população mundial, foi de 4,60 óbitos/100 mil mulheres, em 2020.
Tratamentos e prevenção
Enquanto alguns casos manifestam sinais no estágio inicial da doença, outros são silenciosos e só provocam sintomas em fases avançadas, segundo Rafael Onuki Sato. “Sendo assim, as principais formas de prevenção são manter uma rotina de consultas e exames ginecológicos, e estar atenta ao seu próprio corpo. Dessa forma, tal atitude também contribui para o diagnóstico precoce da doença”, orienta o especialista.
Para além dos exames de rotina e cuidados com o corpo, Mariana Silva Lobo destaca a importância da vacinação como forma de prevenção dos cânceres ginecológicos, haja vista que o vírus do HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), é responsável por grande parte dos cânceres. “Foi lançada uma vacina que contempla nove subtipos do vírus. Então, a gente sabe que o HPV não causa só câncer de colo de útero, mas pode causar também o câncer de vagina. A vacina é uma forma de prevenir”, explica a ginecologista.
Os tratamentos são individualizados, dependendo do tipo de lesão, do estadiamento. “Então quando a gente descobre um câncer, é feito o estadiamento para gente poder definir qual é a conduta. Então cada conduta é individualizada”, disse a especialista. Segundo ela, os tratamentos envolvem desde procedimentos cirúrgicos até radioterapia.
De acordo com Rafael Onuki, a cirurgia de remoção do tumor é o padrão ouro de tratamento, principalmente no estágio inicial. Em alguns casos, como no câncer de ovário, podem ser prescritos os medicamentos conhecidos como inibidores de Parp. “Com a evolução da medicina, as cirurgias oncológicas podem ocorrer de maneira minimamente invasiva com a segurança adequada. Além de oferecerem uma rápida recuperação, garantem maior precisão e segurança”, detalha o oncologista.
Vacinação
O vírus do HPV que infecta pele ou mucosas (oral, genital ou anal), tanto de homens quanto de mulheres, provocando verrugas anogenitais (região genital e no ânus) e câncer, a depender do tipo de vírus, é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). Desse modo, a melhor forma de prevenir é usar camisinha nas relações sexuais e se vacinar – o imunizante é distribuído gratuitamente pelo SUS, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, segundo especialistas, o preservativo não impede totalmente a infecção pelo HPV, já que as lesões podem estar presentes em áreas não protegidas pela camisinha.
A meta do Ministério da Saúde é vacinar 80% da população elegível, mas os números estão abaixo do esperado no Brasil, pois mesmo com a disponibilidade da vacina, o índice de vacinação contra o HPV de meninas brasileiras atinge apenas 57% e, nos meninos, não chega a 40%, sendo que o ideal para prevenir a doença é uma cobertura de 90%.
Segundo o Ministério da Saúde, a desinformação é o principal motivo da baixa procura pela vacina, com questionamentos infundados sobre a eficácia e a segurança do imunizante, associações equivocadas entre HPV e religião e a falta de campanhas de vacinação.
A vacina é indicada para meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade e meninos de 9 a 14 anos. A imunização deve acontecer, preferencialmente, entre 9 e 14 anos, quando é mais eficaz, segundo o Ministério da Saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o câncer de colo de útero como um problema de saúde pública mundial e trabalha desde 2020, com a meta de eliminar a doença.
Julho Verde-Escuro
Este mês de julho, é conhecido como o Julho Verde-Escuro e neste período, autoridades da área da saúde realizam campanhas voltadas à conscientização sobre o câncer ginecológico. Além disso, ela é utilizada para despertar a importância da realização de exames preventivos e do diagnóstico precoce.