De volta ao Brasil, Gabriel Medina lembra título, o sonho de ultrapassar Kelly Slater, dono de 11 mundiais, da idolatria por Senna e as comparações que tem recebido com ele

Gabriel Medina voltou ao Brasil campeão e um ano mais velho. Primeiro brasileiro a erguer o troféu do Mundial de Surfe, o fenômeno de Maresias desembarcou em São Paulo nesta terça-feira com 21 anos e como ídolo. Cercado por uma multidão, o paulista exibiu um largo sorriso e teve dificuldades para deixar o Aeroporto Internacional. Em Guarulhos, Medina recebeu a imprensa brasileira e não desgrudou da irmã Sofia, seu xodó, além da mãe Simone e do padrasto Charles. Ciente de seu novo status, ele falou sobre o sonho de ultrapassar Kelly Slater, de Mick Fanning, da ansiedade que viveu nos dias em que as baterias do Pipe Masters foram adiadas no Havaí, do assédio das “Medinetes” e por mais de uma vez comentou sobre a idolatria e comparações com Ayrton Senna.

– Ayrton é meu ídolo. Um cara que me inspirou bastante. Não tive a honra nem a oportunidade de conhecê-lo. Eu fiquei sabendo do que já falavam. Vi o filme dele também. Até chorei no filme dele, tem várias histórias que são inspiradas. E um monte de gente fala que temos personalidades parecidas. Ele era frio, muito focado e dedicado. Independentemente das circunstâncias, conseguia chegar lá, mesmo com o pior carro, mesmo com algo que não estava gostando, conseguia focar e chegar lá. Essa personalidade de ser vencedor. Esse jeito de ser brasileiro inspirou bastante. Representava mesmo o Brasil, tinha orgulho disso, é o que eu sinto. É uma honra ser comparado a esses caras, como Senna, Guga, que representaram bem o Brasil. Sonho ser parecido com eles – disse Medina, que foi presenteado de surpresa com uma réplica de um dos capacetes de Senna, dado pela sobrinha de Ayrton, Bianca Senna.

A carreata do título, que aconteceria nesta quarta-feira, em Maresias, foi adiada devido às chuvas que atingiram o bairro de São Sebastião. Antes do começo da coletiva, a mãe de Gabriel Medina comentou sobre a tristeza da família com as fortes chuvas no local e que a festa fica para outra data.

Gabriel Medina, coletiva (Foto: Mauro Horita)
Medina tira uma selfie durante a coletiva de imprensa (Foto: Mauro Horita)

Responsabilidade

“A responsabilidade é gigante. Têm muitos moleques, famílias, que assistiram, me acompanham. Então, é uma responsabilidade muito grande. Vou sempre ser eu. Vou tentar passar o melhor que eu posso. Quero ser um bom exemplo para a molecada toda. Essas famílias que me assistem. Na verdade, não caiu a ficha. Não andei na rua por exemplo. Nos próximos dias posso sentir isso… Estava com a resposta na minha cabeça, calma aí….Lá no Havaí conheci vários brasileiros, que iam jantar, fazendo treino me encontrava com eles na praia. Muita gente que não entendia de surfe, do Mato Grosso, Brasília, Tocantins, estavam ali. Estavam na torcida, Vaii Mediiina… Foi legal alcançar esse tipo de gente que não teve contato com o surfe, ou nem com a praia”.

Receio de perder

“O ano foi longo. Comecei no fim de fevereiro e terminei agora em dezembro.  São 11 etapas do Circuito. Tive algumas vitórias, algumas derrotas. Na etapa de Portugal, a penúltima, cheguei a pensar que não ia ser meu. Devido à minha derrota. Kelly também acabou perdendo, Mick ganhando. Ali talvez pensei que a chance de ganhar tinha ido embora. Voltei pra casa, treinei muito antes do Havaí, estava focado. Cheguei ao Havaí, vários dias sem campeonato, mas rolou com altas ondas. Me preparei, foquei, estava dedicado só pensando no título”.

Kelly Slater

“Consegui igualar o Kelly com essa vitória com 20 anos. Na verdade não tinha estratégia, queria muito ser campeão mundial um dia. Não sei por que Deus me escolheu nesse momento. É uma honra ter igualado meu ídolo. Kelly é o cara a ser batido. Tem 11 títulos mundiais. Sei que é muito chão ainda. Tive meu primeiro. Tem o Parko, o Mick, vários caras que têm três, quatro títulos. Claro, a última meta é passar o Kelly. Tenho muita coisa para fazer. Mas sonho é sonho”.

 

Ayrton Senna

“Ayrton é meu ídolo. Um cara que me inspirou bastante. Não tive a honra nem a oportunidade de conhecê-lo. Eu fiquei sabendo do que já falavam. Vi o filme dele também. Até chorei no filme dele, tem várias histórias que são inspiradoras. E um monte de gente fala que temos personalidades parecidas. Ele era frio, muito focado e dedicado. Independentemente das circunstâncias, conseguia chegar lá, mesmo com o pior carro, mesmo com algo que não estava gostando, conseguia focar e chegar lá. Essa personalidade de ser vencedor. Esse jeito de ser brasileiro inspirou bastante. Representava mesmo a bandeira do Brasil, tinha orgulho disso. É o que eu sinto. É uma honra ser comparado a esses caras, como Senna, Guga que representaram bem o Brasil. Sonho ser parecido com eles”.

Gabriel Medina, coletiva (Foto: Mauro Horita)
Gabriel Medina beija o troféu de campeão do mundo (Foto: Mauro Horita)

Volta para Maresias

“Quando passou tudo aquilo, entrevistas, premiação, falei com meus amigos lá. Fui para o banho, cansado, passei o dia concentrado. A única coisa que fiz foi me abaixar no chuveiro e agradecer a Deus. Obrigado senhor. Não estava esperando por tudo aquilo. Claro, dei minha choradinha e agradeci mesmo a Deus. Quando eu chegar a Maresias quero rever meus amigos. Claro, a situação não está boa, mas há dois dias com certeza todos estavam felizes com a vitória. Quero rever meus amigos e comer pizza sempre”.

Multidão esperando

“Quando cheguei ao Aeroporto tinha muita gente. Foi muito legal a recepção de todo mundo. Não esperava por essa galera no Aeroporto. Foi uma surpresa muito boa. Nunca imaginei que chegaria a esse ponto. Muito legal receber o carinho da galera. É bom estar no Brasil de volta. Não tem nada melhor do que estar melhor em casa e ser recepcionado”.

Pressão

“Em questão de pressão, acho que é normal do brasileiro, sempre cobrando. Seja futebol, no surfe, enfim no esporte que tem alguém com chances de representar. Com certeza a responsabilidade aumentou. Esse ano sem mídia foi mais fácil de competir, sem cobrança. O difícil vai ser se manter. Não é impossível. Kelly já conseguiu, assim como outros caras. Estou preparado. Já recebi várias criticas até agora. Consigo lidar com pressão”.

Medinetes?

“Como é o nome das do Kaká? Kakazetes? (risos). O Brasil tem seus fãs. Tem bastante. São bem apaixonados. Em vários esportes tem esse lance de fãs. Tem as Neymarzetes, Kakazetes. E Medinetes, né? Beleza. Acho que é maneiro. Um carinho. Me sinto orgulhoso de ser ídolo. Tem várias meninas que escrevem textos gigantes, mandam presentes. Minha mãe fica amiga delas todas. Trata todo mundo bem, tira foto com todas. É legal”.

Brasil no WCT

Temos vários caras bons hoje no WCT. Todos fazendo excelente campanha representando o Brasil. O que realmente falta é as pessoas acreditarem. Marcas. Antes o surfe tinha um ponto de vista ruim. Os maloqueiros que fumavam maconha, jogados pelo mundo. Hoje é profissão séria. Se você quer ser atleta de ponta, tem que se dedicar, treinar, ter vida de atleta. Hoje o surfe está profissional. O que falta é o lance de acreditar mesmo. Talento a gente tem um monte no Brasil. Eu que viajo mundo inteiro, vejo molecada de nove, dez anos com pranchas lotadas de patrocínio. Acreditando desde pequeno. Aqui você chega ao Rio Grande do Norte ou Guarujá, algumas partes do Brasil, vejo moleques com mais talentos às vezes e nenhum patrocínio. É difícil a situação no Brasil. Não só no surfe, mas outros esportes também”.

Surfe no Brasil

“Antes da minha vitória não era o esporte principal do país. Mas era um dos. Com certeza com essa vitória, abriu as portas para o meu esporte e espero que cresça mais. Esse esporte nos últimos cinco anos tem crescido bastante. Espero que cresça mais. Espero que seja um dos principais, perto do futebol”.

Gabriel Medina, coletiva (Foto: Mauro Horita)
Medina recebeu capacete de presente
(Foto: Mauro Horita)

O que quer no aniversário do ano que vem

“Obrigado a todo mundo por estar aqui. É difícil escolher meu presente de aniversário. Esse ano Deus me deu o de ser campeão mundial. Não estava esperando. Ano que vem ainda dá para pensar.  Espero que seja melhor que esse ou igual”.

Dificuldade

“Psicologicamente. como meu pai sempre fala, eu sou muito frio. Eu fui campeão mundial, estava muito feliz. Mas ao mesmo tempo estava na minha. Penso tranquilo, não me emociono muito. Sempre fui eu. Isso me deixa mais tranquilo. De onde vim, a galera é muito humilde. Tive vários bons resultados. Nunca subiu na minha cabeça. Agora, a maior dificuldade é me manter no topo. Ainda mais no surfe que você passa o ano competindo. O mais difícil é se manter. Mas o Kelly conseguiu, alguns outros conseguiram. Não é impossível. Essa vai ser a pior parte”.

Família

“É um orgulho ter um pai, mãe e irmãos como eles. Passaram o ano viajando comigo. Foram na mala. Quando estou com eles me sinto em casa. Na Austrália, em casa. Minha irmã me enchendo o saco, eu também. Meu padrasto sempre me deixando focado, concentrado. Se não fossem eles, não estaria aqui hoje falando com vocês. Tenho que agradecer a Deus pela família que me deu”.

Gabriel Medina, coletiva (Foto: Mauro Horita)
Gabriel Medina ao lado do padrasto Charles, da irmã e da mãe (Foto: Mauro Horita)

 

Conselhos

“Aconselharia a molecada que está chegando em todos os esportes. Acho que ter fé, ser dedicado ao que você quer ser. E ter essa responsabilidade de atleta, treinar e se alimentar bem. Eu acho que de conselho eu falaria isso. Eu acreditei bastante e por isso estou aqui”.

Adversários

“Com certeza o foco vai ser o mesmo no ano que vem, a busca do título mundial de novo. Temos muitos caras bons. Molecada chegando, John John Florence, Julian Wilson, que ganhou em Pipeline, Filipe Toledo, Pupo, toda a nova geração vai chegar forte no ano que vem. Como a gente viu esse ano. Estamos tomando o posto dos caras que antigamente estavam lá, o Slater, Fanning, Parkinson. Dá para ver a final de Pipeline, com o Wilson. A nova geração está bem forte.  Acredito que ano que vem vão ser mais eles”.

Melhorias no Circuito

“A ASP vai se chamar WSL, World Surf League. Na verdade, nos últimos cinco anos o surfe tem melhorando bastante dentro da ASP.  Premiação, julgamento, eventos, estruturas. Esses cinco anos deu para perceber bastante a melhoria. Esse ano em questão de mídia aumentou muito. A ASP vem fazendo excelente trabalho. Ano que vem vai ter uma melhoria. Estão sempre tentando melhorar. Creio que no ano que vem vão vir com alguma coisa. Mas não sei o que mudará. Não me importo com dinheiro, gosto de competir. Sou apaixonado, mas ia ser bom aumentar premiação e estrutura”.

Irmã se emocionando

“Até comentei com meus amigos. Nunca vi minha irmã se emocionar. E quando a abracei, eu abracei de gratidão. Eu a amo, é o xodó da família. Quando abracei, ela começou a chorar no meu colo. Não entendi nada. Caramba, está se emocionando?  Ela começou a chorar e tive que chorar junto. Acho que sim, ela vai competir, tem sangue da família. Nunca paramos para pensar. Nem sei se ela quer ser surfista. Ela gosta de surfe. Faz tudo na verdade. Skate, joga bola, não para quieta. Se for surfe, vamos começar a sonhar isso, com certeza, né?”.

Pai biológico

Com certeza. Eu sempre falo que sou um privilegiado de ter dois pais. Claro que meu padrasto está mais do meu lado devido à minha profissão. Enfim, sempre esteve do meu lado, entende também do esporte. O meu pai… Eu amo meu pai… Ele é é meu pai. Claro tenho um pouco menos de contato. Mas sempre que estou por Maresias o visito. A gente tem uma relação boa. Acho que ele está contente. Quero vê-lo. Chegar a Maresias e dar um abraço nele. Tenho certeza que ele está orgulhoso de mim. Foi muito bom dar essa felicidade para ele e não vejo a hora de vê-lo”.

About Teresa Cristina [Teka]

Check Also

Esporte: Ronda Rousey nocauteia Bethe Correia “Pitbull” em 34 segundos

Ronda Rousey confirmou seu favoritismo e venceu por nocaute Bhete Correia em exatos 34 segundos …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *